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Quando o sol bater na janela do teu quarto, lembra e vê


No fim da última sexta-feira - o dia da semana em que eu planejo um novo cronograma, de apenas dois dias, sábado e domingo, para fazer tudo aquilo que não consegui dar conta na semana em função do trabalho -, uma tarefa me incomodava, de alguma forma.

Entre fazer supermercado, organizar o guarda-roupas, estava instalar o computador para o pequeno. A tarefa, especificamente, não era minha. Era do meu marido. Mas implicaria na vida de todos nós, pensei. Nós "aposentamos" um computador do escritório e ele, então, viria para casa, para o quarto do André, de 6 anos. Meu marido demorou, seguramente, mais tempo para separar cabos, reinstalar programas, do que o pequeno para sentir-se, efetivamente, no seu lugar, naquela escrivaninha, no tão natural manejo do mouse.

Foto: Arquivo pessoal

Ficamos olhando para ele - e para toda aquela nítida facilidade - e nos perguntamos como será daqui 30 anos, quando ele terá mais ou menos a idade que temos hoje. Primeiro, tive aquele momento de mãe coruja e saudosa, vendo aquelas pernas compridas balançar na cadeira, lembrando que um dia ele teve só 48cm - agora tem 1,26m de altura.

Pois bem, potenciais previsões sobre o futuro daqui 30 anos assombraram ou nos fizeram correr para a academia e comer melhor - porque, afinal, queremos muito estar aqui pra ver tudo que pode ocorrer - porque eu só fui ter um computador, afinal, quando estava na faculdade. E ele nem era só meu! Era da família! Eu esperava o relógio marcar meia noite para enviar os trabalhos para os colegas e, ainda, para desfrutar a incrível maravilha do pulso único para que, enfim, a internet me abrisse o mundo.

Uma conversa aqui, medos e perspectivas de negócios em outras áreas (meu marido e eu trabalhamos juntos) nos levaram a George Orwell, autor do livro 1984, o primeiro livro que li na faculdade, aliás. E eu nem ia dizer, mas já dizendo o que todo mundo diz: suas ideias nunca foram tão atuais! Não sei se é irônico ou genial ele ter imaginado a sociedade que ele não conheceria, mas que representaria a nossa vida. Conectados, informantes uns dos outros, vigiados e direcionados. Sempre haverá um grande irmão, ao que tudo indica. E o problema todo disso vai ser informar e não formar.

Quando completou 65 anos de sua morte, lembro das pessoas que gostavam da sua obra e crítica, trazerem uma espécie de ranking com o que ele teria acertado. Invariavelmente, o fato de sermos, mesmo, observados, aparecia na lista. Sim, Orwell estava certo: não são apenas os governos que violam a privacidade dos cidadãos. O Facebook e o Google estão observando tudo o que fazemos.

E tem mais: Na obra, a maior parte da população era de esfomeados e miseráveis. Olha aí mais um acerto. Em 2015, os estudos apontavam que as riquezas do 1% mais rico do mundo deviam superar a fortuna dos 99% restantes da população em 2016. Hoje, mais de um bilhão de pessoas vivem com menos de R$ 3,30 por dia.

E daqui 30 anos? Meu marido tem a resposta na ponta da língua: "Viveremos na Matrix da Matrix". "Que horror", eu digo e já tiro o nosso guri do computador. Mas o raciocínio dele segue a martelar na minha cabeça. Já falamos nesse espaço, até repetidamente, que as crianças têm facilidade para dominar novas tecnologias e explorar as possibilidades da tecnologia. Elas estão em fase de crescimento e também do desenvolvimento da personalidade e aptidões individuais de ser humano, especifica a literatura da área da educação. Agora imaginem elas, recomendo eu, não só conhecendo o mundo e as ferramentas digitais, mas adultas, as dominando, encabeçando novos negócios e gerando renda? Vão operar verdadeiros milagres!

Foto: Fronteiras do Pensamento (reprodução)

O problema é que nem elas, mesmo sendo muito mais especiais que nós éramos - vocês devem perceber o quanto as nossas crianças são mais sensacionais do que poderíamos ter sido ou sejamos, mais justas do que fomos, mais espertas, inteligentes, mas também mais sinceras, livres de preconceito, inclusivas - vão resolver os problemas (e a dor) do mundo.

Neste mês, a CIO, que fala de estratégias de negócios e TI para líderes corporativos, disse que só em cinco anos, o ambiente de trabalho, por exemplo, estará completa e integralmente diferente do que vemos hoje. Os especialistas dizem ao veículo que a tecnologia vai mudar a força de trabalho. Mas poucos falam sobre ela mudar a vida, diretamente eu me refiro. Não no sentido de rotina, mas de espiritualidade, de valores, de senso de justiça, de princípios.

Cientistas, futuristas, dizem que as habilidades vigentes vão importar menos do que a capacidade de aprender habilidades novas; que a inteligência artificial e a automação vão mudar a maioria dos empregos. Aliás, eles dizem que a força de trabalho do futuro será composta por funcionários trabalhando lado a lado com os seus contratantes, e com a então IA e a automação. Dizem, ainda, que a computação quântica vai redefinir a produtividade (e é aí que a gente já começa a quase não entender os termos e áreas envolvidas e tudo parece uma grande viagem - ou não).

A gente, que quer viver mais para ver, só sabe de uma coisa: nunca podemos parar de estudar. Do contrário, jamais acompanharemos essa evolução prevista para daqui 5 ou 10 anos. E daqui 30 anos? Sigo a me perguntar. E, confesso, assustada - da mesma forma que fico com uma pulga atrás da orelha quando leio artigos ou comentários sobre o dito fato de Bill Gates e Steve Jobs terem criado seus filhos sem tecnologia.

"Eles deviam almejar, para eles, seus próprios filhos, o controle da Matrix", disse meu marido.

"Gente, que fixação por essa Matrix, meu Deus do céu?!", eu rebato. Ele me falou, então, sobre Raymond Kurzweil, um americano que diz que os robôs serão realidade nas nossas casas em 2027. Na de todos?, eu quero saber. Meu marido também.

Foto: Pinterest (reprodução)

O que o Andrewes, meu marido sabe e me contou, contudo, é que esse cara é um inventor, futurólogo, escritor e diretor de engenharia no Google. Ele é especializado na área de Ciências da Computação e Inteligência Artificial.

E eu descobri, dando um google, que eu já tinha visto outras coisas sobre ele: a vitória de um computador em uma partida de xadrez disputada contra o melhor jogador do mundo; o surgimento de assistentes eletrônicos, como Siri e Alice e; sistemas de realidade virtual aumentada. Enfim, acho que ele é mesmo bom.

Um site chamado Incrível Club (que, para muitos, é cheio de cultura inútil) disse que, em outubro de 2010, ele publicou um artigo que analisava como as previsões descritas em seus três livros (de 1990, 1999 e 2005) já tinham virado realidade. O site revela que das 147 previsões, 115 foram totalmente acertadas, 12 acertadas de maneira geral, 17 parcialmente certas e apenas 3 equivocadas. E que, sim, o nível de previsão do futurólogo é de 86%.

Tem livros dele na Saraiva por preços relativamente acessíveis. Eu encomendei!

Para o ano que vem, 2019, ele diz que a humanidade terá vencido as doenças que matam cerca de 95% das pessoas nos países desenvolvidos e, ainda, que processos ligados ao envelhecimento ficarão significativamente mais lentos, e começarão a reverter-se. Massa, né?!

Mas para daqui 30 anos? Entre 2045 e 2099, para ele:

1) A Terra irá se transformar num computador gigante
2) As pessoas que optarem por manter seu estado natural, viverão em áreas especiais de reserva
3) A humanidade não será mais limitada pela velocidade da luz
4) A inteligência artificial irá extrapolar os limites da Terra, levando sua influência primeiro ao sistema solar, e depois a outras galáxias
5) Estrelas, planetas e meteoros vão se transformar numa matéria estruturada capaz de abrigar vida
6) Em 2099, as máquinas poderão construir computadores do tamanho de um planeta

Duvida? Matrix, meu esposo deve ter razão! Ou melhor, Raymond Kurzweil deve ter.

Foto: Metrópoles (reprodução) 

Não faz muito tempo que meu marido "me obrigou" a conferir a triologia do Matrix. Eu não havia sido, como ele, na época do lançamento, pega pela febre. É um clássico de ficção científica que encoraja as pessoas a refletir e que, em linhas gerais, podemos viver numa grande simulação da realidade.

Mas, cá com meus botões, penso: se vivemos numa simulação e, ironicamente, simulamos outras realidades, a exemplo dos óculos 3D, estaríamos simulando realidade dentro de uma outra simulação? Que loucura - ou não! Talvez por isso boa parte da nossa geração esteja buscando autoconhecimento e reencontro com a espiritualidade. Talvez por isso estejamos buscando a paz e, também, talvez por isso, um dia precisemos quebrar duas vezes a barreira da tecnologia para nos reencontrarmos de verdade. Pode ser em 2099. Por hora, se o sol bater na janela do nosso quarto, é melhor pararmos, e desplugados, sobretudo, para ver (e enxergar de verdade). Isso, de tudo e tanto, de fato, deve ser um verdadeiro espetáculo. Afinal, lembra e vê, que o caminho é um só.

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